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37º Congresso Brasileiro de Pediatria

 

 

 

 

 

O 37º Congresso Brasileiro de Pediatria ocorreu entre os dias 12 e 16 de outubro de 2015 na cidade do Rio de Janeiro. Foi um evento promovido pela Sociedade Brasileira de Pediatria que contou com a participação de milhares de pediatras, residentes e acadêmicos interessados na área e contemplou temas atuais e relevantes para a saúde da criança e do adolescente. Confira abaixo alguns dos tópicos discutidos:

 

Insuficiência e Deficiência de Vitamina D e Massa Óssea em Pediatria:

O dr Luiz Cláudio Gonçalves de Castro destacou em sua palestra que o conteúdo mineral ósseo aumenta até 30x nas primeiras duas décadas de vida, sendo que o pico de massa óssea ocorre aproximadamente aos 20 anos. Assim, 40 a 60% da massa óssea do adulto é adquirida na adolescência. Por esses motivos, o dr Luiz Cláudio considera que a osteoporose é uma doença pediátrica com manifestações geriátricas, já que o conteúdo mineral ósseo é definido na faixa etária pediátrica. Com relação à vitamina D, o palestrante lembrou que o tempo de exposição ao sol necessário para sintetizar essa vitamina depende da cor da pele do indivíduo; e que não se recomenda dosar vitamina D para todos, e sim apenas para indivíduos com fatores de risco para deficiência de vitamina D. Por fim, destacou que, embora evidências recentes indiquem associação entre vitD e doenças autoimunes, doenças crônicas e alguns tipos de câncer, ainda não é possível estabelecer um fator causal. Portanto, não está adequado prescrever vitamina D para prevenir essas patologias.

 

 

Puberdade Precoce:

A palestra da dra Angela Maria Spinola e Castro buscou responder à pergunta: esta criança tem puberdade precoce? Para isso, a dra Angela salientou que o início da puberdade é definido pela gonadarca (desenvolvimento mamário ou aumento do volume testicular) associada à adrenarca (surgimento de pelos pubianos e axilares e odor axilar), sendo a puberdade precoce definida como o desenvolvimento de qualquer caractere sexual secundário antes dos 8 anos nas meninas e menarca antes dos 9 anos; ou desenvolvimento de qualquer caractere sexual secundário antes dos 9 anos nos meninos e alteração da cronologia puberal. Os sinais de alerta para puberdade precoce são: aceleração na velocidade de crescimento; sinais de virilização, como acne e aumento de massa óssea; e crescimento desproporcional do pênis. Se há suspeita de puberdade precoce, a dra Angela sugere solicitar os exames de testosterona total e SDHEA.

Quer saber mais sobre este tema? Então confira aqui a notícia que publicamos no site há algumas semanas...

 

 

Leitura e Desenvolvimento: Um Fator de Proteção

O dr Ricardo Halpern alertou para o impacto da leitura no desenvolvimento infantil. A coorte de Pelotas mostrou que as crianças que têm livros em casa e que costumam ouvir histórias têm até 3x menos risco de ter problemas de desenvolvimento quando comparadas àquelas que não os tem. O impacto da leitura e da contação de histórias é maior nas famílias mais vulneráveis (pais com menos escolaridade). Dr Halpern destacou, ainda, que contar histórias fornece mais interação verbal entre pais e filhos do que brincar; e que ouvir histórias é um antídoto para a ansiedade, sendo que crianças que ouvem histórias antes de dormir dormem mais tranquilas. Por fim, a palestra concluiu com a certeza de que estimular a contação de histórias e a oferta de livros é uma medida factível para promover o desenvolvimento saudável das crianças. Pensando nisso, a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou a campanha "Receite um Livro", em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Fundação Itaú Social. Saiba mais sobre a campanha clicando aqui.

 

 

Tabaco, Álcool e Maconha São Doenças Pediátricas:

A palestra do dr João Paulo Becker Lotufo alertou para o fato de que 90% dos consumidores de álcool, tabaco e maconha começam a fazê-lo antes dos 15 anos, sendo que a chance de dependência é maior se o uso da droga ocorre antes dos 21 anos. Com relação à maconha, o seu uso já está quase tão frequente entre os adolescentes quanto o tabagismo, e o consumo de maconha está relacionado ao abandono escolar. Já em relação ao álcool, é importante lembrar que o Brasil é campeão de álcool como fator de morte. O dr João Paulo destacou dois fatores protetores para o não-uso de drogas: espiritualidade e diálogo familiar. Por fim, o palestrante salientou que é muito importante abordar o assunto drogas nas consultas, e lembrou que para isso são necessários apenas 3 minutos em cada consulta.

 

 

Quando Pensar em Imunodeficiências Primárias:

O dr Jorge Andrade Pinto iniciou sua palestra lembrando que as imunodeficiências são subdiagnosticadas e subnotificadas. Elas devem ser investigadas nos casos de pacientes pré-escolares com mais de 15 episódios virais por ano, com duração prolongada, ou nos casos de infecções "GRIP" - Grave, Recorrente, Incomum e Persistente. Os sinais de alerta no primeiro ano de vida são: reação adversa à BCG; DM ou outra doença autoimune ou inflamatória; e lesões cutâneas extensas. A avaliação laboratorial dos pacientes com suspeita de imunodeficiência primária inclui hemograma, anti-HIV, imunoglobulinas e dosagem de anticorpos vacinais (tétano, sarampo e pneumococco).

 

 

Más Notícias em Pediatria:

A dra Mariana Bohns Michalowski falou sobre os 4 passos para a comunicação de más notícias. O passo 1 é escutar, ou seja, compreender a experiência e os valores do paciente e da família. Isso pode ser feito por meio de questões como "como tem sido pra você e seu filho?"; "quais foram os momentos mais difíceis até agora?"; "o que vocês preferem?"; e "o que é importante nesse momento?". O passo 2 é estabelecer o prognóstico e informá-lo claramente para a família. Com relação a este passo, a dra Mariana mostrou vários estudos que demonstram que os médicos limitam a comunicação de más notícias por compaixão, o que é um equívoco, pois a informação sobre o prognóstico é considerada útil ou extremamente útil para a manutenção da esperança pelos pais, mesmo se a notícia for ruim ou muito ruim. As pesquisas mostram também que os pais têm a capacidade de esperar a cura ao mesmo tempo que se preparam para a possibilidade de morte, mas dependem de informações para isso. Assim, é importante lembrar que esperança pressupõe a compreensão da situação real. Já o passo 3 é estabelecer objetivos de tratamento, aliando o conhecimento ténico aos valores e às expectativas do paciente e da família; e o passo 4 é pensar no que você pode fazer para melhorar o luto dos pais enquanto a criança está viva, pois se sabe que o luto existe mesmo antes do momento da morte. 

 

 

O Papel do Pediatra no Acompanhamento Tardio de Sobreviventes do Câncer na Infância:

A palestra da dra Liane Esteves Daudt abordou os tópicos mais importantes a serem lembrados no acompanhamento tardio de crianças e adolescentes sobreviventes de câncer. Ela destacou que a sobrevida em 5 anos de todos os tumores da infância atualmente é em torno de 80%, o que faz com que seja grande o número de pacientes que precisarão de acompanhamento médico após o tratamento para o câncer. A palestrante mostrou estudos que demonstram que indivíduos adultos expostos na infância à tratamentos para o câncer têm maior morbidade e mortalidade do que adultos não expostos; e que as principais causas de mortalidade são decorrentes do tratamento (segunda neoplasia, cardiotoxicidade, etc). No geral, 95% dos sobreviventes vai ter alguma condição crônica na vida adulta, o que comprova que eles precisam ser acompanhados de perto. Os tumores ósseos são os que mais causam complicações a longo prazo. Os principais efeitos a longo prazo são: alterações de crescimento e desenvolvimento; alterações de fertilidade e reprodução; alterações nas funções cardíaca, pulmonar, renal, endócrina, oftalmológica e auditiva; segunda neoplasia; problemas de saíde mental, como depressão, ansiedade relacionada ao câncer, estresse pós-traumático; e comportamento de risco: tabaco, álcool, drogas, não adesão ao tratamento. Considerando que a maioria dos sobreviventes do câncer seguem seu acompanhamento com o pediatra ou clínico geral, e não em um serviço especializado em câncer, é importante que o pediatra tenha em mente essas informações para poder tratar bem seus pacientes. 

 

 

Diagnóstico de TDAH:

O dr Ricardo Halpern abordou os principais aspectos do diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O TDAH afeta aproximadamente 5% das crianças em todo o mundo, e persiste em aproximadamente 75% das pessoas ao longo da adolescência e da vida adulta. Este transtorno é resultado de uma interação complexa entre fatores genéticos e ambientais, e não é secundário a fatores culturais. O diagnóstico é clínico, sendo baseado na tríade clássica de sintomas do TDAH: distração, hiperatividade, e impulsividade, os quais acontecem em todos os ambientes que a criança frequenta. Comorbidades acontecem na maioria dos casos, e a principal delas é o transtorno opositor desafiante. O impacto causado pelo TDAH é grande e inclui principalmente problemas legais, abuso de substâncias, transtornos de comportamento, fracasso acadêmico e profissional, e problemas de relacionamento.

 

 

Tratamento do TDAH: 

O dr Christian Muller falou sobre o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Este transtorno deve ser tratado quando há um padrão persistente de sintomas, com comprometimento social, acadêmico e profissional, e desajuste com relação ao desenvolvimento esperado da criança. As bases do tratamento são o metilfenidato e a lisdexanfetamina. Os efeitos colaterais mais comuns são inapetência, cefaleia e dor abdominal, e pode ser necessária uma pausa no tratamento no período de férias escolares. As formas de tratamento não-farmacológico incluem medidas ambientais, como sentar mais à frente na aula e saídas curtas da sala de aula com intervalos regulares; psicoterapia; e prática de esportes.

 

 

As Relações Familiares no Mundo Contemporâneo e a Situação da Criança:

O dr José Martins Filho falou sobre as novas configurações familiares e seu impacto no desenvolvimento emocional das crianças. Ele destacou que a falta de afeto e carinho provocam problemas no desenvolvimento neurobiológico da criança, com perda da plasticidade cerebral e redução no número de sinapses. Assim, não basta que os pais amem a criança, ela precisa saber que é amada. Ele destacou, ainda, que uma criança sozinha dificilmente é feliz; e que a criança terceirizada (isto é, que é criada por babás ou creches) tem mais problemas de sono e de desenvolvimento neuropsicosocial. O palestrante finalizou mostrando a frase de José Saramago: "O homem que sou é por causa da criança que eu fui". 

 

 

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