IX Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria
O IX Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria ocorreu entre os dias 01 e 04 de junho de 2016 no centro de eventos da PUCRS, em Porto Alegre. Foi um evento promovido pela Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul e contou com a participação de pediatras, residentes e acadêmicos interessados na área. Confira abaixo alguns dos tópicos discutidos:
Principais Contribuições das Coortes de Pelotas para a Pediatria:
O dr Aluisio Barros mostrou em sua palestra alguns dados obtidos dos estudos da coorte de Pelotas. Ele salientou que os países mais pobres são os que têm maior índice de amamentação, assim como no Brasil as famílias mais pobres são as que têm maior prevalência de amamentação. Em nosso meio, o aleitamento materno exclusivo tem aumentado, mas a amamentação prolongada (aquela criança que é amamentada ao seio até os 12 meses) não. A coorte de Pelotas mostrou que quanto mais tempo as crianças são amamentadas, maior o QI e a renda mensal na vida adulta. Com relação aos estímulos à criança, como leitura, parques, visitas a familiares e amigos, entre outros, os estudos de Pelotas mostram que quanto maior a estimulação, maior o escore de QI, sendo que crianças bastante estimuladas têm escores de QI semelhantes, independente da escolaridade materna. O dr Aluisio destacou, ainda, que crianças com nível econômico menor têm mais transtornos psiquiátricos, assim como as crianças com mães cronicamente deprimidas. Já com relação ao tipo de parto, os estudos mostram um dado alarmante: a prevalência de cesáreas em 2015 foi de 95% no setor privado e 55% no setor público.
A Epidemia de Zika Vírus e a sua Repercussão:
A dra Maria Ângela Wanderley Rocha, de Pernambuco, falou sobre a Síndrome Congênita do Zika Vírus, que é o conjunto de alterações provocadas pela infecção congênita pelo vírus. As principais manifestações clínicas dessa infecção são microcefalia, calcificações cerebrais, hidrocefalia e epilepsia; alterações oftalmológicas e auditivas; disfagia; alterações ortopédicas, como pé torto congênito, luxação de quadril e contraturas musculares; e irritabilidade. 60% das mães apresentaram alguma sintomatologia durante a gestação, sendo a principal delas rash cutâneo.
Manejo das Febres Hemorrágicas por Vírus:
A dra Carolina Amoretti, da Bahia, falou sobre como manejar a febre hemorrágica causada pelo vírus da Dengue. Ela salientou que a dengue grave geralmente ocorre nas primeiras 24h após o desaparecimento da febre. Sinais importantes são prostração, dor/distensão gastrointestinal e derrame pleural. Para tratar esses pacientes é importante investir na hidratação. Os pacientes com dengue leve sem comorbidades ou sinais de alarme podem ser manejados ambulatorialmente com terapia de rehidratação oral. Já os casos moderados ou graves devem ser manejados em internação hospitalar, com hidratação endovenosa.
Atualização em Reanimação Neonatal:
O dr Marcelo Pavese Porto mostrou as principais mudanças no protocolo de Reanimação Neonatal de 2015. Segundo o novo protocolo, a presença de líquido meconial em casos de bebês à termo, com bom tônus e respiração adequada, não é mais indicação de clampeamento precoce do cordão. Ele salientou que a ventilação pulmonar é o procedimento maus importante e efetivo na reanimação neonatal. Ela está indicada em casos de FC <100 bpm, respiração irregular e apneia ou gasping. A posição do profissional que realiza a reanimação também mudou: o profissional deve ficar atrás da cabeça do paciente, e utilizar a técnica dos 2 polegares. O guideline também destacou a importância de manter normotermia do paciente (entre 36,5 e 37,5°). Com relação às drogas não houve mudança: a adrenalina continua sendo a única droga a ser utilizada.
Infecção Congênita por CMV:
A dra Aparecida Yulie Yamamoto, de São Paulo, destacou que a infecção por CMV é a principal infecção congênita no Brasil, e também a maior causa de surdez neurossensorial não-genética na infância. A dra Aparecida salientou que, no caso do CMV, a imunidade da mãe não protege o RN, o que torna essa patologia tão frequente. Nos casos de crianças com a infecção congênita por CMV, o teste da orelhinha pode não detectar a perda auditiva, já que ela pode se manifestar até os 5 anos de vida, sendo que o pediatra deve sempre estar atento à sintomatologia da criança e realizar o encaminhamento para um especialista quando necessário. O tratamento está indicado para pacientes sintomáticos, e é feito com ganciclovir endovenoso ou valganciclovir via oral.
Diagnóstico de Farmacodermias Versus Alergias:
A dra Ana Paula Dornelles da Silva Manzoni falou sobre como diferenciar farmacodermias e alergias cutâneas (principalmente dermatite atópica e urticária). Inicialmente, ela falou sobre os fatores de risco de cada gurpo de doenças. No caso da farmacodermia, os fatores predisponentes são utilização frequente e prolongada da droga (principalmente antibióticos, AINEs, analgésticos e anticonvulsivantes), e conservantes presentes nas formulações dos medicamentos. Já os fatores de risco para alergia são história familiar ou pessoal de atopia, viver em países desenvolvidos e áreas urbanas, infecções e doenças autoimunes. As manifestações clínicas incluem prurido, xerose e eczema no caso da dermatite atópica; e prurido, ponfo ou urtica, que ocorre de forma migratória em casos de urticária. Já na farmacodermia o prurido é menos frequente. Não existem exames que definam o diagnóstico.
Alimentação Seletiva: Como Abordar?
O dr Mário C Vieira, do Paraná falou sobre a alimentação seletiva. Ele iniciou destacando a importância do tema, visto que até 50% dos pais acham que os filhos não comem bem, sendo esta uma queixa muito comum nos consultórios de pediatria. O dr Mário mostrou que a alimentação da gestante e da nutriz influenciam a aceitação de alimentos pelos bebês. Isto é, se uma mãe comia regularmente determinado alimento durante a gestação, o filho tem mais chance de gostar deste alimento no futuro. É importante estar atento aos sinais de alerta, que indicam que a queixa de recusa alimentar pode estar associada a alguma doença orgânica. Estes sinais são: disfagia, deficit de crescimento, diarreia, sangue nas fezes, sintomas respiratórios, atopias, entre outros. Com relação à conduta, deve-se orientar os pais a não forçar a alimentação; utilizar utensílios alternativos para a alimentação, como talheres e copos diferentes; e evitar introduzir novos alimentos durante situações desagradáveis, como infecções, por exemplo.
Lactente com Vômitos: Como Abordar?
O dr Mário C Vieira falou também sobre o lactente com vômitos. Ele salientou que a regurgitação é normal, e tende a diminuir até os 12 meses. O pico de frequência é aos 4 meses, e após a introdução de alimentos os sintomas tendem a melhorar. A radiografia e o ultrassom não têm utilidade clínica na investigação do refluxo, e a medicação deve ser prescrita com cautela, visto que os inibidores de bomba de prótons (como omeprazol e esomeprazol) êm efeitos colaterais importantes, incluindo aumento da chance de desenvolver APLV e, portanto, devem ser indicados apenas em pacientes com esofafite documentada por endoscopia.
Diagnóstico Diferencial de Dor Abdominal Recorrente:
A dra Marilia Dornelles Bastos falou sobre a dor abdominal crônica recorrente na criança. Este sintoma ode ter origem orgânica ou funcional, sendo que apenas 5 a 10% das crianças que apresentam essa queixa têm uma causa orgânica. Os sinais de alerta para doenças subjacentes incluem dor bem localizada, não peri-umbilical; vômitos ou diarreia importantes; disfagia; sintomas noturnos; perda de peso involuntária; parada de crescimento ou retardo da puberdade; melena ou hematoquezia; incontinência fecal; sinais sistêmicos, como febre; artrite; rash cutâneo; disúria e hematúria,; e história familiar de DII. Nas crianças que não apresentam esses sinais de alerta a causa deve ser funcional, sendo necessário orientar os pais quanto a isto
GH na Criança com Baixa Estatura:
A dra Leila Cristina Pedroso de Paula falou sobre o uso de Hormônio de Crescimento (GH) na infância. Ela começou falando que o uso desta medicação deve ser bem indicado, pois ela tem efeitos colaterais como edema de extremidades, artralgia, mialgia e resistência insulínica. As indicações bem estabelecidas para uso dessa medicação são deficiência de GH e síndrome de Turner. Existem também algumas patologias que têm indicação controversa ao uso do GH e, portanto, devem ser analisadas individualmente. É o caso de crianças que fizeram radioterapia de SNC (nesses casos o uso do hormônio aumenta chance de recidiva tumoral); síndrome de Prader Willi; restrição de crescimento intrauterino; síndrome de Noonan; e baixa estatura idiopática.
Uso de Estatinas em Crianças e Adolescentes:
A dra Elza Daniel de Mello falou sobre o uso de estatinas para tratamento de dislipidemia em crianças e adolescentes. Inicialmente é necessário fazer o diagnóstico da dislipidemia. Para isso, a dra Elza frizou as indicações de screening, que são: crianças de 2 a 8 anos com história familiar de dislipidemia grave ou eventos ateroscleróticos precoces; e/ou doenças sistêmicas que levam à dislipidemia; e/ou uso de medicações que alterem o perfil lipídico; e todas as crianças entre 9 e 11 anos. Nesses casos, deve-se realizar screening com exame de colesterol não-HDL (que não precisa de jejum). Caso o resultado seja maior ou igual a 144, deve-se solicitar um perfil lipídico completo. Já as indicações de farmacoterapia são: crianças acima de 10 anos com LDL acima de 190 ou 169 com fatores de risco; e crianças entre 8 e 10 anos que não responderam ao manejo dietético, pode-se considerar o manejo farmacológico. Nestes casos, estatinas são a primeira opção e devem ser utilizadas à noite.
Asma Tosse Variante:
O dr Cássio da Cunha Ibiapina, de Minas Gerais, falou sobre a Asma tosse variante. Ele salientou que tosse é um sintoma comum de asma. Entretanto, tosse isolada raramente está associada à asma. A tosse costuma ser seca e mais evidente no início da manhã e da noite. Muitos pacientes apresentam também história familiar de asma e atopias. Grande parte dos pacientes com asma tosse variante evolui para asma clássica com o passar do tempo, e o tratamento desta patologia é semelhante ao da asma clássica.
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